Será que alguém em Portugal não conhece a Mercadona? A Irmadona (a irmã da Mercadona em Portugal) já representa 8% do sector em Portugal e está a entrar no mercado portugués de uma forma muito forte. A cadeia de supermercados líder em Espanha está a ser muito apreciada pelos portugueses.
Em apenas 4 anos, com uma marca completamente desconhecida e sem grandes campanhas publicitárias, atingiu um volume de negócios de 1.297 milhões de euros em Portugal, com apenas dez supermercados.
Embora muito atrás dos dois clássicos do retalho português, o Continente (Sonae MC) com 27% de quota de mercado e o Pingo Doce (Jerónimo Martins) com 22%, a Mercadona começa a ser um sério concorrente da clássica dupla local Continente-Pingo Doce.
2023 foi um ano espetacular para a marca valenciana, que desembarcou em Portugal em 2019 com a abertura do seu primeiro centro logístico na Póvoa de Varzim, seguido da primeira loja em Vila Nova de Gaia, ambos na zona do Porto.
Neste último ano, quase duplicou as suas vendas (+90%) e alcançou lucros pela primeira vez.
Os números da Mercadona em Portugal
- 49 lojas (2023)
- 11 aberturas previstas para 2024
- 5.300 colaboradores (2023) (+1.800 novos empregos)
- 1.403M de facturaçao
- 1.178M€ compras em Portugal
- 291M€ de investimento
Juan Roig Presidente da Mercadona ficou satisfeito com o acolhimento dos portugueses e deixou claro que a consolidação das vendas no país é uma prioridade. “Vamos consolidar muito bem em Portugal”, respondeu Juan Roig ao descartar a possibilidade de entrar num terceiro mercado, esclareceu que os objectivos da empresa são “ter Portugal tão controlado como Espanha” e tem como objetivo a longo prazo ser o líder em 2030.
Em 2024 Mercadona planeia abrir 11 supermercados em Portugal, pelo que vai terminar 2024 com um total de 60, chegando a 12 dos 18 distritos do país, através de um investimento de 196 milhões de euros.
Além disso, conta com um bloco logístico operacional na Póvoa de Varzim e, em julho, em Almeirim, em Santarém, abrirá o segundo que será, aliás, o seu maior na Península Ibérica, fruto de um investimento de 225 milhões de euros. Para alcançar este objetivo teórico em 2030, a Mercadona teria de crescer ao dobro do ritmo atual, algo para o qual está atualmente preparada.
O modelo Mercadona: o que é que o faz ter tanto sucesso?
Para além de se preocupar com todos os pormenores de um Modelo de Qualidade Total, o que realmente distingue a Mercadona é a forma como dá prioridade aos seus objectivos económicos.
A cadeia de supermercados tem gravado no seu ADN que o seu principal objetivo é satisfazer com a mesma intensidade e nesta ordem sequencial o que denomina os componentes da empresa:
- O Chefe (cliente)
- O Colaborador
- O Fornecedor
- A Sociedade
- O Capital
Neste modelo, a Mercadona dá prioridade à satisfação dos seus clientes (o chefe) e dos seus colaboradores, depois aos seus fornecedores, depois à função social que uma empresa da sua dimensão representa e, finalmente, aos lucros dos seus proprietários.
É uma reviravolta absoluta na forma como se dá prioridade ao capital de uma empresa. É uma forma de compreender que, para que os proprietários da empresa obtenham lucros, têm primeiro de satisfazer as 4 partes acima referidas. E a Mercadona converteu isto numa cultura de empresa. Desde o primeiro ao último dos mais de 100.000 empregados sabem-no.
E o modelo online da Mercadona
Há 7 anos, Joan Roig surpreendeu numa apresentação quando disse: “A nossa Web é uma merda”. Desde então, a Mercadona revolucionou sua estratégia online e seu serviço de entrega em domicílio com um investimento de 150 milhões de euros.
Atualmente, o canal online representa cerca de 2% do total de vendas do grupo, aproximadamente 650 milhões de euros em 2023. Embora isso possa parecer pequeno dentro de um faturamento total de 35.500 milhões de euros, como destacou o presidente da empresa durante a apresentação dos resultados, “não é um valor que possa ser ignorado”.
O crescimento desse canal em 2023 foi notável, com um aumento de 20% na faturação e cerca de quatro milhões de pedidos. Esse sucesso é atribuído a Juana Roig, diretora da Mercadona Tech desde o ponto de inflexão em 2017, responsável pela estratégia de digitalização da empresa. A companhia embarcou em uma jornada de investimento de mais de 150 milhões de euros, contando atualmente com uma equipe de 2.400 pessoas, 400 das quais foram contratadas em 2023.
Sob a liderança da diretora Tech, a Mercadona implementou um sistema único de colmeias, designação dada aos armazéns dedicados exclusivamente à venda online, localizados em pontos estratégicos para atender à demanda. Atualmente, existem seis dessas colmeias, em cidades como Valência, Barcelona, Madrid, Alicante, Sevilha, e a mais recente em Boadilla del Monte, a segunda na Comunidade de Madrid, servindo também localidades próximas.
“Quanto ao futuro da Mercadona Online, não podemos prever. Seria como olhar para uma bola de cristal”, disse Juan Roig, antecipando, no entanto, um “futuro espetacular” para a empresa, resultado de “tomar decisões corajosas, às vezes impopulares e incômodas”.
A Mercadona ainda não tem uma data para a sua primeira Colmena em Portugal, nem mesmo para a abertura das suas vendas online, mas quando o fizer é muito provável que dê mais uma reviravolta no conceito de supermercado online.
Com os números alcançados em Espanha e com a tecnologia e experiência de que dispõe atualmente, vai colocar os seus concorrentes, que parecem já saber o que está para vir, numa situação difícil.
Para saber mais sobre as vendas online da Mercadona e todo o seu modelo, recomendamos que assista a esta entrevista com Juana Roig, que explica com absoluta precisão as mudanças e o futuro das vendas online da Mercadona, que em breve chegará a Portugal.
João Gomes
Jornalista. Desde muito jovem, apaixonado pelo mundo do marketing e dos negócios na Internet. Fã de ecommerce e wordpress. Editor do Portugalecommerce.com.
