“A situação atual dos meios de comunicação” foi o tema abordado no dia 15 de maio, em Lisboa, durante o Congresso da APDC. Em uma época em que os jornalistas foram às ruas em defesa dos seus direitos, há cada vez menos órgãos de comunicação social em Portugal e mais consolidações e fechamentos.
Existem também meios de comunicação independentes em linha fora dos grandes grupos de comunicação social, com novas formas de comunicar com públicos que também têm novos gostos e preocupações.
As estruturas dos grupos de media do passado já não podem suportar os custos tradicionais de lidar com o mundo em linha. A sustentabilidade dos meios de comunicação continua sendo um ponto central e, segundo Carla Martins, do novo conselho diretivo da ERC, “o jornalismo está vivendo um dos momentos mais críticos de sua história”. Compreendendo que os grupos de comunicação social são necessários e devem ser rentáveis, o problema é que a solução que propõem passa sempre pela via da regulamentação … e é feita à medida das suas necessidades: “é preciso regular de maneira mais rápida e justa para garantir um jornalismo sustentável e independente no futuro”.
Durante o congresso, Carla Martins mencionou também que a Inteligência Artificial impactará significativamente toda a comunicação social. E é verdade. E assim será. A IA vai mudar as estruturas de poder do jornalismo e dos grupos de media. Basicamente, democratizará a possibilidade de ser ou não ser um “media”. porque o verdadeiro poder reside nos utilizadores que escolhem os meios de comunicação a que prestam atenção. Mas, mais uma vez, os grandes meios de comunicação social estão a pedir uma regulação que estabeleça regras e princípios para garantir a transparência.
É fácil pedir regulamentação e não especificar exatamente do que estamos a falar.
A intervenção da representante da ERC abriu a porta para uma conversa entre os principais líderes dos grupos de media portugueses com canais de televisão. RTP, Impresa, Media Capital e Medialivre, que detém o mais recente canal NOW, se reuniram para discutir novos modelos de financiamento.
“É sabido que muitos telespectadores desistiram da televisão, pois não se identificam com a oferta atual. As plataformas digitais e de streaming conquistaram o público português, e acreditamos que há espaço para um novo canal de informação em Portugal”, afirma Luís Santana, CEO da Medialivre.
Com o lançamento do novo canal de informação, que estará disponível nas televisões dos portugueses a partir de 17 de junho, surgem questões sobre a distribuição da receita publicitária entre os grandes grupos de media e o impacto nas audiências.
Francisco Pedro Balsemão, CEO do grupo Impresa (Proprietários dos canais SIC e do semanário Expresso, entre outros), defende que é necessário “continuar a confiar no nosso produto” e que “compete a nós, enquanto grupos de media, encontrar nosso espaço, reforçando nossa presença tanto nas plataformas tradicionais quanto nas novas”.
Pedro Morais Leitão, CEO da Media Capital (proprietários dos canais TVI, da cnn portugal e da plataforma digital IOL ), foi mais assertivo e afirmou que “o mercado publicitário não é suficiente para ninguém” e que “2024 será o ano em que as receitas de publicidade no streaming superarão as dos media tradicionais”. Um sinal dos tempos que exige um diálogo aberto com os grandes detentores de plataformas, como Amazon e Netflix, para garantir uma melhor distribuição que traga sustentabilidade ao setor dos media.
“Nós disponibilizamos a série ‘Rabo de Peixe’ na Netflix. Você acha que isso trouxe milhões para a RTP? Nem pensar”, explica Nicolau Santos, presidente da RTP. Como canal público, os desafios são diferentes, mas Nicolau reitera a necessidade de uma “união entre os operadores nacionais” e um diálogo conjunto que permita reconhecer a existência de uma imprensa livre, que também deve ser apoiada pelo Estado português.
Na realidade, parece que os líderes tradicionais dos meios de comunicação tradicionais tomam decisões na esperança de que a magia aconteça para parecerem “modernos”, mas os novos meios de comunicação não funcionam assim. Atualmente, os planos estratégicos a 5 ou 10 anos não fazem sentido. Talvez apenas como meros objectivos, porque é necessário ser muito mais flexível e rápido na execução. Além disso, pequenas coisas podem fazer grandes mudanças.
No passado, os media costumavam tomar decisões com uma visão de décadas… e isso já não faz sentido.
O outro culpado, para além da IA, para os principais meios de comunicação social são as “notícias falsas”. Outro termo que os faz parecer modernos. Já encontraram a segunda desculpa, quando na realidade não sabem o que fazer para continuarem a ser os senhores das redes sociais, excluindo os pequenos media. Para Luís Santana, da Medialivre, o maior desafio é “saber qual informação é de qualidade e verificar toda a informação recebida”. Só assim será possível enfrentar os conteúdos gerados por Inteligência Artificial.
Mais uma vez, para os grandes grupos de comunicação social, os problemas não estão em casa, mas no que fazem no exterior. É tempo de compreender que as soluções não surgem sem inovação, sem mudanças, sem compreender que as audiências já não são generalistas, são verticais, segmentadas, transversais … mas livres de escolher as suas fontes de informação.